Chat do Cantinho do Poeta

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Encontro Horripilante, Noite Agonizante

 


Era uma noite normal, de trabalho rotineiro, quase fim de expediente, claro uma noite excessivamente quente, mas eu nem imaginava o que estava por vir naquele escolar ambiente. Sim era uma escola onde eu trabalhava, era um servidor dos que cuidam da escola, com carinho ás vezes faz até tarefas fora de suas atribuições (mas esta é outra estória),vamos ao que interessa. Era sexta feira e eu estava todo tranquilo pois logo iria embora, ledo engano, eram em torno de vinte e uma horas e eu saio do trabalho as vinte e três, mas chega alguém da direção e lembra que no dia seguinte no sábado, haveria prova de concurso e as salas deveriam estar arrumadas, e agora? Todos nos perguntamos só eu, uma colega e o gestor naquele momento ninguém mais ali e os dois não poderiam ficar, mas como a escola estaria pronta para o devido evento no dia seguinte? Sábado? Depois de tantas argumentações, ponderações eu assumi a tarefa, combinamos assim eles iriam embora eu organizaria as salas segundo layout fornecido pelos organizadores ainda bem que eram apenas as salas, carteiras e cadeiras pois material impresso como cartaz, setas, etc...estavam prontos. Isso não acontece normalmente numa escola, foi um imenso acidente, talvez providenciado pelo além para que eu vivesse aquela noite que nunca mais esquecerei.

Então eles saiam eu os acompanhei até a porta, e logo voltei para pôr mãos à obra e terminar logo e ir dormir também, porém sabia que não acabaria antes de 6:00hs quando deveria chegar as primeiras pessoas que trabalhariam no referido evento, assim que virei as costas e eles saíram olhei para trás as luzes de fora haviam se apagado.

Estranhei, pois, nem ouvi barulho de disjuntor desarmando que poderia acontecer por uma sobrecarga, mas deixei como estava, pois as luzes de fora não eram problemas e eu perderia tempo buscando chaves do quadro de luz. Mas não parou por aí as coisas estranhas, ao passar pelo corredor em frente a janela que um dia debruçado escutei um tec,tec,tec de saltinho de mulher passando atrás de mim e ao olhar nada vi(isso durante o dia), naquele momento ouvi os mesmos barulhos á minha frente desta vez, sem nada ver.

Me arrepiei todo, mas não tinha tempo para chiliques, fui então para a primeira sala e comecei a arrumar as carteiras segundo o layout estabelecido, arrumei aquela sala com cabelos a todo corpo arrepiado, chegava gelar o corpo apesar do calor que estava fazendo naquela noite.

De vez em quando eu via vultos passando pelo corredor, ouvia barulho na sala ao lado de arraste de carteiras, vozes como se estivessem aulas, de repente um garoto parou e olhou na porta, ficou alguns minutos me olhando, parecia aluno da tarde, fui até a porta sumiu dando gargalhadas. E assim foi durante todo tempo em que gastei para arrumar a primeira sala, algumas vezes ouvia _oi tio, é assim que me chamam na escola. Mas eu nem olhava para ver quem dizia, continuava na arrumação, enfim acabei aquela sala perecia que durou um ano só na primeira, mas foram apenas alguns minutos.

Fui para a segunda, qual foi minha surpresa, a sala estava arrumada, todas carteiras e cadeiras dispostas exatamente como a primeira, me arrepiei, segui então á terceira sala, estavam poucas carteiras e cadeiras desarrumadas, em poucos minutos então arrumei aquela também e subi para as salas do andar pavimento superior que são em maior número.

Ao subir a escada parecia que uma multidão me acompanhava, eu não olhava para trás apenas sentia o corpo gelar cabelos arrepiar, existe uma sala onde o antigo caseiro dizia que sempre via um homem de chapéu á sua porta.

Não foi diferente ao subir o último degrau, caminhar alguns passos me deparei com a referida sala, o tal estava encostado na porta como a me receber, era um homem alto, todo de preto, chapéu grande na cabeça, como a sorri embora eu não visse completamente seu rosto.

Meu corpo que já estava gelado parecia que o couro se juntava, contraía, as juntas doíam todas e mal conseguia andar.

Me direcionei antão ao outro corredor, arrumava cada sala pensando, como farei para arrumar aquela do cara na porta? Como entraria ali? Ele deixaria? O caseiro nunca me disse se havia entrado naquela sala mesmo como o cara ali.

Afinal ele passava apenas pelos corredores para alcançar os quadros de luz e apagar as luzes a noite e acender pela manhã.

Cada sala daquela que eu arrumava em alguns minutos, pareciam anos demorados para terminar cada uma eu já nem me incomodava com alunos (espíritos)que apareciam, sentavam nas cadeiras que eu arrumava, passavam pelos corredores, alguns me chamavam ao longe, pelo nome.

Minha preocupação agora era o chapeludo, como arrumar aquela sala? E foram assim horas intermináveis, poucas horas, mas angustiantes, torturantes, delirantes e agonizantes, eu tinha já dificuldades até para respirar.

Acabei de arrumar as salas do primeiro corredor, agora faltavam poucas salas no segundo acho que quatro ou cinco, incluindo a primeira que automaticamente determinei que seria a última. Passei pela porta o frio, aliás gelo do corpo aumentou zilhões de vezes ao passar por aquele ser intrigante de chapéu ali na porta desta vez não parecia me receber, mas sim impedir que eu entrasse. Até sua expressão que antes parecia sorrir agora parecia de ódio, de irritação, de agressividade, não sei como não desmaiei ao passar por ele, até minha corrente sanguínea parecia parar, meu sangue gelar.

Me dirigi á última sala daquele corredor, arrumei sem muita rapidez, afinal minha angústia por saber que tinha que arrumar a primeira sala que deixei por último e como passaria pelo ser protetor desta, eu pediria licença? Passaria de supetão por ele? Afinal espíritos são ar, passaria sem problemas por ele(supostamente).

Mas a eternidade de tempo gasto em cada sala retardava esta decisão que deveria tomar ao chegar o momento, neste momento já haviam uma multidão comigo como se fosse torcida alguns a meu favor, outros contra rindo da minha cara, mas um monte de meninos, meninas velhos e velhas, até escravos apareceram por ali com correntes e tudo.

Acabei enfim as salas daquele corredor restando apenas a do chapeludo, cheguei na porta com passos de tartaruga, as pernas pareciam pesar centenas de quilos, toneladas, mas arrumei coragem não sei de onde e fiquei cara a cara com ele.

O ser levantou a cabeça afinal pude ver claramente sua face, expressão de quem sentia ódio e pronto a me atacar, simplesmente disse:_ Boa noite, o senhor me dá licença? Posso entrar? Preciso arrumar esta sala também. Olhei no relógio do celular eram cinco horas, completei preciso deixar tudo arrumado até as seis horas falta apenas uma.

Ele meio que se afastou parcialmente, deixando um pequeno espaço (meia porta) para eu passar, mesmo já parecendo morto de tão gelado eu avancei quando passei por ele, senti como se ele passasse o pé em mim me fazendo cair.

Eu então realmente caí, mas não encontrei o chão da sala, continuei caindo, caindo como num abismo, eu ia virando, virando, uma hora estava de pé, outra de cabeça para baixo e continuava caindo.

Como se estivesse no espaço, mas era tudo esquisito, ora iluminado, ora tudo escuro se nada ver, apenas luzes distantes, vultos, eu apenas pensava onde estou? E as carteiras e cadeiras daquela sala? O pessoal teria que arrumar quando chegasse e o meu fim qual seria agora? Para onde estava indo?

Seria realmente meu fim?

E o chapeludo sumiu, me derrubou naquele “buraco” e sumiu, pensava, será meu fim? Estou morrendo? Onde será que esta queda me levará? Comecei a rever minha vida, desde a infância, via todos os monstros dos quais eu tinha medo, passavam por mim alguns sorrindo, outros como a querer me devorar.

Parecia uma eternidade passando naquela queda, vi todos meus parentes mortos, avós, tios, primos irmãos, só não vi meu pai terá reencarnado? Mas enfim a queda não acabava, caía, caía, caía.

Senti uma mão me tocando e uma voz que dizia acorda dorminhoco, me leve á feira. Abri os olhos e vi minha esposa sorrindo me chamando para ir a feira, eu estava dormindo em minha cama, minha casa e agora? Eu pensava o que aconteceu? Como cheguei até aqui? Terá sido sonho?

Eu perguntei, mas tem feira hoje? Ela disse claro tem a feira de sábado, pensei ah! então hoje é sábado? E que horas são? perguntei são dez horas precisamos ir logo a feira, senão ficam só o resto e não encontramos produtos de boa qualidade.

Fiquei pensando se perguntava a ela quando cheguei em casa e como cheguei, afinal estava tudo tão real em minha cabeça, tão confuso.

Só uma semana depois eu consegui entender se foi sonho ou não aquilo tudo, mas você, não saberá, fiquei na dúvida, aliás o que você acha? Foi sonho ou foi real?

 

 

 

Célio Rheis

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